Propostas dos jovens portugueses para melhorar a Política Agrícola Comum

Nos últimos meses mais de 500 estudantes da EuroRegião Galiza-Norte de Portugal participaram no FunCAP, um projeto que, de forma lúdica, os aproximou das chaves da nova Política Agrícola Comum. No final deixaram algumas propostas.

Nos últimos meses cerca de 500 estudantes de 15 escolas da Galiza (Espanha) e do Norte de Portugal participaram ativamente no projeto FunCAP, uma iniciativa inovadora liderada pela Fundação Juana de Vega e financiada pela Comissão Europeia. O projeto divulgou a importância e os benefícios da Política Agrícola Comum para a sociedade entre os jovens da EuroRegião Galiza-Norte de Portugal.

Vale a pena lembrar que a PAC é a principal rubrica económica da União Europeia, com um orçamento de 386 mil milhões de euros para o novo período 2023-2027, o que representa o primeiro capítulo das despesas comunitárias, com 33% do seu orçamento.

Como assegurar que este apoio contribui eficazmente para o desenvolvimento das zonas rurais e para uma agricultura e uma pecuária económica, ambiental e socialmente sustentáveis? A esta complexa questão tentaram responder os alunos das 8 escolas portuguesas que entre os meses de março e junho deste ano participaram nas salas de aula do projeto FunCAP. Fizeram-no a partir de várias sessões através do ‘Os Soutos do Norte’, um jogo desenvolvido para este projeto, que de uma forma lúdica e colaborativa lhes ensinou a aplicar os princípios da PAC na vida quotidiana de uma exploração pecuária ou agrícola.

Jovens de ambas as margens do Minho no evento final do projeto

evento final do projeto, que se realizou a 14 de junho em Muiños (Ourense) sob o lema “Tempo de sonhar um futuro para a EuroRegião”, serviu precisamente para os jovens de ambas as margens do Minho trocarem conhecimentos e, sobretudo, ideias, de modo a que a Política Agrícola Comum contribua para o desenvolvimento das zonas rurais.

Neste dia de encerramento participaram alunos e professores de cinco centros educativos em Portugal (Escola Profissional Agrícola Conde de São Bento, Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Vagos, Escola Profissional do Alto Douro e Escola Profissional ETAP de Vila Praia de Âncora) e cinco outras escolas galegas (EFA Fonteboa, IES Ortigueira, IES Xelmírez II, CFEA de Sergude e IES de Arzúa).

Pela manhã, os presentes participaram numa sessão sobre ‘Os Soutos do Norte”, e de tarde os alunos, muitos deles futuros agricultores, travaram um diálogo enriquecedor com pessoas com experiência comprovada no setor, nomeadamente Beatriz Guimarey, do Posto de Atendimento EIP-Agri; Elena Piñeiro, presidente da Associação de Assessores Rurais da Galiza; Isabelle Gómez, uma das fundadoras da Traloagro, uma quinta biológica que também transforma e comercializa a sua produção, e Pedro Rei, presidente da Associação de Jovens Agricultores de Portugal.

De todo este trabalho resultaram várias propostas, muitas delas na linha do “Pacto Verde Europeu” ou da “Estratégia Farm to Fork”, entre as quais:

Uma PAC mais justa:

Os estudantes que participaram no projeto FunCAP concordam em exigir que a Política Agrícola Comum contribua efetivamente para equilibrar o poder de negociação dos produtores com a indústria e a distribuição, a fim de assegurar que agricultores e criadores de gado recebam preços mais justos pelos seus produtos.

Dentro destes objetivos económicos, apelam também à promoção de compras diretas dos consumidores aos produtores, a fim de reduzir os intermediários e a uma maior profissionalização do setor, de modo a que a gestão das explorações agrícolas e pecuárias seja mais eficiente e rentável.

Uma PAC que promova a biodiversidade e o combate às alterações climáticas:

Outro ponto comum entre os participantes foi a exigência de uma PAC que promova a biodiversidade e combata as alterações climáticas através de medidas tais como:

  • Promover o consumo de produtos locais para reduzir a pegada de carbono.
  • Promover uma agricultura que contribua para o sequestro e fixação do carbono no solo.
  • Reduzir a utilização de fertilizantes químicos.
  • Incentivar as práticas agro-ecológicas.
  • Promover e encorajar as raças e variedades de culturas autóctones.
  • Reduzir as monoculturas intensivas e incentivar a diversificação e rotação de culturas.
  • Proteção acrescida dos insetos polinizadores, especialmente abelhas, devido ao seu papel-chave nos ecossistemas.
  • Reduzir o desperdício alimentar promovendo a economia circular, o consumo de produtos sazonais e novos hábitos de consumo.
Uma PAC que estimule a inovação e a eficiência:

Outro objetivo transversal estabelecido pelos jovens foi a modernização do setor através da inovação e da digitalização.

Especificamente, exigem medidas de apoio à incorporação de programas e equipamentos informáticos, tais como drones ou robôs que ajudem a melhorar a produção agrícola e pecuária, tornando-as mais eficientes. Outra linha de ação seria melhorar a formação dos produtores em novas tecnologias, bem como em estratégias de comunicação para que a sociedade como um todo esteja consciente da importância do seu trabalho.

Uma PAC que promova a inclusão e a igualdade dos jovens:

Os objetivos sociais que a nova PAC deveria ter não foram alheios aos mais de 500 estudantes que participaram no projeto FunCAP. Assim, concordaram com a necessidade de promover a incorporação de mulheres e jovens na atividade agrícola.

Ao mesmo tempo, e para que os jovens possam desenvolver os seus projetos de vida nas zonas rurais, exigem que o acesso aos serviços públicos seja facilitado, bem como benefícios fiscais e sociais, a fim de fixar a população e as empresas.

Falam os protagonistas:

Rui Ribeiro, professor da ETAP Escola Profissional Viana do Castelo:

O projeto FunCAP visa promover o consumo de alimentos locais.

“Como professor de cozinha e restauração na ETAP de Viana do Castelo, insisto sempre que antes de saber cozinhar temos de conhecer a comida e a forma como foi produzida. Neste sentido o projeto FunCAP sublinha que numa sociedade aberta como a europeia, devemos educar e reeducar para encorajar o consumo de comida local, evitando a poluição e o transporte”.

Emanuel Jesus, estudante da Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Vagos:

Aprendemos de forma lúdica e talvez seja por isso que estivemos mais atentos.

“O conteúdo da PAC no jogo é mais ou menos o que aprendemos nas aulas de economia. Foi muito divertido, aprendemos a brincar e talvez isso nos tenha tornado mais atentos”.

Claudine Pinto, professora na Escola Profissional do Alto Douro:

Este jogo encoraja os alunos a pensarem.

“Como professora, vi que a atividade ia ter lugar durante o horário escolar, mas vi que por detrás do jogo havia noções de empreendedorismo, desenvolvimento sustentável e espírito crítico.

Os jovens não estão habituados a pensar nem a desenvolver ideias e os alunos tendem a absorver e não pensar naquilo que estão a fazer. No entanto, este jogo encoraja o pensamento e de uma forma divertida. Foi muito interessante ver as crianças aplicarem os seus conhecimentos. Também achei a experiência da Biblioteca Viva muito inovadora”.

Tomás Brito, aluno da Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Vagos:

Incentiva a colaboração com outros produtores.

“O jogo permitiu-me adquirir conteúdo e tirar conclusões que futuramente posso utilizar no meu trabalho no setor agrícola, em particular no meu projeto de apicultura em cortiços, seguindo a via tradicional. O jogo também ajuda a descobrir os projetos dos outros participantes e como colaborar com eles, porque desta forma todos nós ganhamos. No meu caso, outra pessoa queria trabalhar na horta e eu com as minhas abelhas posso ajudar a polinizar as suas culturas”.

Filipe Ribeiro, diretor do Curso de Produção Agrícola da ETAP Vagos:

O jogo foi muito bem concebido e os estudantes participaram entusiasticamente.

“O interesse, empenho e entusiasmo demonstrado pelos estudantes no curso e na dinâmica do jogo foi notável. Considero que o jogo ‘Os Soutos do Norte’ está muito bem concebido e foi muito bem dinamizado pela equipa da FunCAP”.

Inês Solha, professora do curso de Produção Florestal da ETAP Vagos:

O FunCAP é um projeto muito interessante porque tornou a aprendizagem dinâmica e participativa e eles conseguiram aprender os objetivos e princípios da nova PAC.

José Capitão, estudante de agropecuária da Escola Conde de São Bento:

“Eu sabia pouco sobre a PAC e graças a este jogo adquiri mais conhecimentos sobre a mesma. A PAC é fundamental para a sociedade como um todo e ajuda os produtores, especialmente em tempos difíceis como o que estamos a atravessar”.

Ricardo Gomes, aluno da Escola do Conde de São Bento:

“O jogo é simultaneamente jogo e realidade, uma vez que os agricultores e criadores de gado têm de tomar decisões continuamente para se adaptarem a um ambiente climático e económico em mudança. No meu caso, eu tinha como objetivo uma exploração suinícola, mas para o conseguir precisava de 15 sacos de batatas. O jogo encoraja-nos a tomar continuamente decisões para alcançarmos os nossos objetivos”.

Irimia Fernández Álvarez, criadora de ‘Os Soutos do Norte’:

É um jogo vivo que os estudantes têm vindo a moldar.

Irimia Fernández Álvarez é a fundadora da Brazolinda, a empresa que concebeu ‘Os Soutos do Norte’, o jogo com o qual o projeto FunCAP está a levar a PAC aos jovens de uma forma lúdica.

“Quando nos pediram para desenvolvermos o jogo, queríamos que não fosse um jogo típico de perguntas e respostas, mas que as pessoas que jogam ‘Os Soutos do Norte’ experimentassem de alguma forma o que é ter uma quinta e uma exploração pecuária e que enfrentassem os problemas do dia-a-dia em obter alimentos para o gado, comercializar a produção, respeitar o ambiente, etc. Isto obrigou-nos a documentarmo-nos sobre a PAC e sobre o setor agrícola e pecuário em geral, a fim de vermos os diferentes problemas e elaborarmos um jogo mais realista. Além disso, a fase de teste do jogo com peritos e em vários centros de formação profissional foi crucial, uma vez que a comparámos diretamente com estudantes que vivem a realidade do setor nas suas famílias e foi muito enriquecedora.

É um jogo vivo, com vários capítulos, e iremos modificá-lo e melhorá-lo ao longo do tempo. O mais bonito desta experiência foi o próprio processo em que os utilizadores a moldaram através da sua participação e vendo que os estudantes viviam e sentiam o jogo”.

 

@EUAgri #IMCAP

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