Portugal é o 16º país do mundo em termos de segurança alimentar, de acordo com o índice da Economist Intelligence Unit. Os cereais são a sua principal fraqueza, pois produz apenas cerca de 20% dos cereais de que necessita.
Nos últimos dois anos o país assistiu a uma sucessão de acontecimentos que revelaram a importância de algo que era dado por garantido: a segurança alimentar do país. Primeiro vieram os confinamentos devido à pandemia por Covid, o que impulsionou a procura de alimentos nos supermercados portugueses. E agora, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, dois dos principais produtores de alimentos do mundo, colocou a questão da segurança alimentar na linha da frente.
Contexto da PAC
A segurança alimentar de Portugal tem de ser vista no contexto do mercado comum europeu. A União Europeia é autossuficiente em todos os géneros alimentícios exceto fruta. Produz mais do que consome em leite, carne, cereais, vegetais e ovos.
O atual cenário de segurança alimentar na Europa foi alcançado após a Segunda Guerra Mundial, quando a escassez de alimentos levou à criação da Política Agrícola Comum (PAC) em 1962. Atualmente, esta PAC mantém o apoio ao mundo rural, que é essencial para que os agricultores e criadores de gado produzam alimentos a preços acessíveis para a população europeia.
Dos 28 países do mundo com o mais alto nível de segurança alimentar, 15 são europeus, de acordo com a análise da Economist Intelligence Unit (2015), organização internacional de previsão económica. Portugal ocupa a décima sexta posição no mundo e a décima na Europa.
Disponibilidade de alimentos em Portugal
Isto significa que Portugal tem garantida uma grande disponibilidade de todo o tipo de alimentos, com qualidade e acessibilidade. O contexto do mercado comum europeu explica esta segurança alimentar, porque na realidade, o campo português mostra vulnerabilidades em parte das suas produções, especialmente em batatas e cereais.
Portugal só é autossuficiente em cerca de 20% dos cereais de que necessita, de acordo com dados do INE, enquanto o resto tem de ser importado. Noutras áreas tais como fruta, carne e ovos, Portugal é mais de 80% autossuficiente em alimentos, com perspetivas de melhoria; e em vegetais é um claro exportador, produzindo cerca de 134% das suas necessidades, de acordo com um estudo recente.
Guerra na Ucrânia, aumento de preços e situação de mercado
A Rússia e a Ucrânia são dois dos principais celeiros da Europa, estando entre os maiores exportadores mundiais de trigo e milho. Por exemplo, Portugal tem importado anualmente mais de 75 milhões de euros de milho para a alimentação animal da Ucrânia.
O esperado bloqueio das exportações dos mercados russo e ucraniano já impulsionou os preços futuros do trigo e do milho. Este aumento de preços internacional também vem num contexto de mercado complicado, devido a dois fatores principais. Primeiro, há uma seca na Península Ibérica que irá reduzir a produção nesta estação. E em segundo lugar, o aumento do custo da energia, fertilizantes e rações leva também a um aumento do preço dos cereais.
Dada esta situação, a necessidade de Portugal importar cereais torna o país de certa forma vulnerável. No entanto, deve também notar-se que a FAO espera uma colheita cerealífera mundial recorde em 2022, com boa disponibilidade de trigo e milho em países que tradicionalmente exportam para Portugal, como o Brasil, a Argentina e os Estados Unidos.